terça-feira, 14 de julho de 2009

Delírio do dia... Desabafos de uma ratazana

Estava um belo dia de sol e já não tinha restos de jeito em casa. Resolvi ir até às traseiras do mercado municipal. Quando cheguei deparei-me com uma visão celestial: por entre uma laranja bolorenta e uma maçã já semi putrefacta, estava o mais belo exemplar de roedor que meus olhos tiveram o prazer de contemplar. Pelo cinzento claro, unhas e dentes incrivelmente afiados, umas orelhinhas amorosamente delicadas, uns olhos completamente negros com um brilho ofuscante e uma longa cauda que se estendia soberana sobre um manto de folhas murchas de alface. Fiquei estática perante aquela visão esplendorosa, tanto que por pouco não escapava a uma paulada de uma vendedora que gritava:

- Fora daqui ratazana dum raio!
Sempre me irritou esta mania que os humanos têm de achar que temos todas Raio no apelido, Raio ou outras coisas piores...
Enquanto fugi para debaixo de um caixote ainda gritei:
- O meu nome é Dionísia sua humana histérica!!!

Estava então a recuperar o fôlego daquela experiência menos agradável, quando uma voz terna e ao mesmo tempo forte e segura de si me disse: “ Está bem?” - Era o assombro de roedor que tinha causado toda aquela perturbação.

- Estou sim, obrigada. - Balbuciei eu entre um tentar não parecer muito extasiada pelo brilho dos seus olhos e um tentar recompor-me daquela prova forçada de 110 m barreiras logo pela manhã. - Estes humanos estão cada vez menos compreensivos. Uma ratazana já nem pode escolher uns restitos à vontade! Mas o seu focinho não me é familiar, é nova aqui nesta zona, não é?

1 comentário:

  1. ahahahahhahahahaha delicioso este pedaço de história roedora :) Mas "orelhinhas amorosamente delicadas" é capaz de ser demais...ahahahah blarghhh :) Agor aa sério...há dias assim...em que me sinto roedora d'um raio...escorraçados pelos dias, vamos vivendo...até que umas quaisquer orelhinhas delicadas nos prendem o olhar ;)

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